A poesia de Cléber Baleeiro: carne, palavra e verdade
Por Carlos Galdino
A poesia de Cléber Baleeiro não é lugar comum. E isso, num tempo em que quase tudo se parece, já é uma ousadia.
Cléber não escreve para agradar — escreve porque precisa. E talvez aí esteja a diferença mais profunda entre ele e tantos que se dizem poetas. Ele não se move pelo aplauso. Sua poesia não busca plateias fáceis, palcos iluminados ou cortes virais. Ela vai na contramão. É poesia que exige escuta, que fere antes de curar.
Se emocionar, sofrer, ter dúvidas — isso tudo é humano, mas não basta para se fazer poesia. Cléber sabe disso. Sua escrita não se contenta com o raso. Ele não rima só por rimar. Não fala de flores para parecer delicado, nem de amor para parecer profundo. Sua poesia é substância, é tutano. E tutano, como a gente bem sabe, é o que sustenta o osso.
Em seu novo livro, “A carne das coisas se desdobra”, Cléber mostra que sabe exatamente onde pisa. E pisa firme. Com a palavra certa, o verso bem assentado, ele não apenas escreve: ele disseca. É como se ele pegasse o mundo nas mãos e, com bisturi e cuidado, nos mostrasse o que há dentro de cada gesto, de cada coisa que parece banal.
Cléber não joga para a moda. Não entra na onda do tema do momento. Não escreve como quem caça curtidas. Ele escreve como quem vive, observa, e volta com as mãos sujas de realidade. Sua poesia não é produto. É ofício. É trabalho de perito, de alguém que sabe que a palavra certa tem peso — e que usar a errada é uma irresponsabilidade.
Há poesia demais sendo feita por quem apenas se acha poeta. Cléber, não. Cléber é. E é porque sua palavra tem corpo, tem sangue, tem pensamento. É poesia que nasce do chão, do tempo, do espanto, daquilo que pulsa quando ninguém está olhando.
Se tem uma coisa que não falta em sua escrita é coragem. Coragem de não ceder ao aplauso fácil. Coragem de não entregar o poema antes da hora. Coragem de manter o silêncio quando for preciso, e dizer quando for inevitável.
Ler Cléber Baleeiro é um ato de reencontro com o que há de mais sério e honesto na poesia. E, numa época em que tanta coisa é simulacro, isso vale como ouro. Ou melhor: como carne viva.
Poeta, e leitor antes de qualquer coisa.
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