A Revolução Que Não Veio: Rádios Ignoram Público do Vídeo e Perdem Espaço para Podcasts
Por Carlos Galdino
É difícil entender como, em plena era da comunicação multiplataforma, tantas emissoras de rádio — inclusive grandes redes nacionais — ainda tratam suas transmissões em vídeo como um detalhe irrelevante. O que deveria ser uma janela para conectar-se visualmente com o público tornou-se, para muitos, um espelho da falta de preparo, sensibilidade e visão de futuro.
Quem já assistiu a uma transmissão de rádio pela internet conhece o cenário: câmaras estáticas mostrando estúdios frios, mesas vazias, cadeiras girando, enquanto os apresentadores seguem alheios à presença de quem os vê. É como se o vídeo não existisse. Conversas paralelas nos intervalos, entrevistas sem qualquer cuidado visual — quando um simples banner com nome, imagem e voz do repórter resolveria — revelam um desprezo silencioso por quem escolhe assistir, e não apenas ouvir.
O mais grave é que isso não acontece apenas em pequenas emissoras. Grandes rádios com orçamento e estrutura para investir em qualidade visual seguem tratando o vídeo como um apêndice incômodo, ignorando uma audiência que, ao contrário do que parece, está atenta e cada vez mais exigente. Quem assiste não quer ver cabos, copos e cadeiras. Quer ser reconhecido, envolvido, respeitado.
Enquanto isso, os podcasts ganham terreno, justamente por oferecerem o que as rádios ainda não entenderam: um diálogo direto com o público. Podcasters olham para a câmara, falam com quem está do outro lado, pensam na estética, no conteúdo e na experiência. Sabem que a atenção é um ativo precioso e agem de acordo.
Está mais do que na hora de o rádio dar o próximo passo. Isso não significa tornar-se televisão, mas compreender o mínimo: se vai transmitir em vídeo, que o faça com profissionalismo. Que os apresentadores sejam treinados para se comunicarem também com os olhos e não apenas com a voz. Que os estúdios pensem em enquadramentos, luz e presença. Ou então, que deixem o vídeo de lado.
O público merece respeito. E o rádio, se quiser sobreviver com relevância, precisa sair do piloto automático e olhar, de fato, para quem está vendo.
Carlos Galdino, radialista, poeta, produtor cultural e bacharel em Direito. Ativo na cena literária paulistana, é presença constante em saraus, feiras e movimentos culturais.
Instagram, Facebook e Twitter: @gallldino
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