No fim, só nós
- Para Gutembergue Alves
No fim,
não há filtro que salve.
Nem legenda inteligente,
nem close certo.
A estética morre junto com a estética.
Você pode correr,
postar, investir, malhar,
encher o corpo de colágeno
e o feed de viagens,
fazer jejum intermitente
e stories motivacionais.
Nada escapa daquilo que está quieto,
no canto escuro de si mesmo.
Não adianta MBA,
medalha de mérito
ou selinho azul.
O vazio atravessa a biometria facial.
No fim,
o algoritmo não recomenda paz.
A IA não responde o que vem depois.
O coach grita para um auditório vazio.
Os diplomas viram papel reciclável.
Os seguidores silenciam.
Nada nos livra do reumatismo,
do dente gasto,
osso gasto,
da calvície precoce,
da falta de interesse,
do esquecimento,
do desânimo natural
que chega como quem já era esperado.
Não tem como escapar da gente.
Nem com coaching,
nem com fé emprestada.
Nem com lifting de alma.
Não tem como escapar dos nossos escombros —
essa tapera que fomos construindo
com pressa e disfarces.
Ali, no fim, moramos nós.
Com nossos amassados,
nossos bugs,
nossas ferrugens.
Sozinhos.
Sem maquiagem.
Sem discurso.
No espelho final,
não há ângulo.
Não há edição.
É só você —
sem upgrade,
sem performance,
sem atalho.
A gente passa a vida tentando ser outra coisa,
mas no fim,
é só a gente,
nu,
com tudo o que foi,
com tudo o que evitou ser.
E não tem como pular essa parte.
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