Por Carlos Galdino
Às vezes, olho para trás e me pego refletindo sobre as reviravoltas da vida. E se paro para pensar bem, a culpa é da Fernanda. Sim, é dela mesmo. Deixe-me contar como cheguei a essa conclusão.
Há alguns anos, eu estava passando por um momento difícil em minha vida pessoal. Sempre fui tímido e reservado, e nunca fui de frequentar muitas casas aqui em São Paulo. Na verdade, as pessoas também não frequentavam a minha. Sempre morei nas periferias, em casas simples e apertadas, mal localizadas. Sentia vergonha de convidar alguém para visitar meu lar, para conhecer os quartinhos modestos onde vivi.
Lembro-me, em particular, do quartinho de empregada onde morei em 2016. Era pequeno, simples, mas era meu refúgio. Quando me mudei para este apartamento de quatro quartos, tive a oportunidade de escolher em qual dos quartos ficaria. E escolhi o quartinho do fundo, o mais discreto, o mais tranquilo.
Naquela época, as coisas estavam difíceis. Foi quando lancei meu livro "Achados e Perdidos", com o dinheiro que tinha em mãos. Se não lançasse naquele momento, talvez nunca o fizesse. Amigos como Jaime, Jefferson, Laudeci e Eduardo Monga me incentivaram, me apoiaram nesse projeto. Eles e tantos outros que me cobravam, que queriam comprar meu livro.
Eu vendia cada exemplar por R$30, o suficiente para garantir minhas refeições no "Bom Prato" por um mês inteiro. Eu caminhava da Praça Princesa Isabel, onde morava, até a Rua 25 de Março, enfrentando o centro movimentado de São Paulo a pé, só para ter acesso a uma refeição acessível.
Lembro-me vividamente do primeiro livro que vendi, e do segundo, para o Ivan Ferretti. E, mesmo em tempos difíceis, houve alguém que não virou as costas para mim. Fernanda, sim, ela me chamou para passar o Natal em sua casa. Eu hesitei, afinal, sempre fui tímido. Mas aceitei o convite e fui recebido com carinho, amor e respeito.
Fernanda me apresentou a pessoas incríveis, talentosas e importantes. E foi assim que conheci Rubens Jardim, entre tantos hoje amigos. A notícia de sua partida me entristeceu profundamente, mas percebo agora que a culpa é da Fernanda. Se não fosse por ela, eu não teria conhecido tantos talentos, tantas pessoas incríveis. Se não fosse por ela, eu não teria experimentado tanta felicidade.
Então, sim, Fernanda, a culpa é sua. Mas continue sendo culpada, porque se não fosse por você, eu também não seria tão feliz.
São Paulo, 15 de maio de 2024.
2 comentários:
Poxa... estou emocionada aqui, querido Galdino. Muito obrigada por esse texto lindo. Você sabe que eu gosto muito de você e tenho uma grande admiração por seu percurso. Quando eu vejo você feliz com a vida que construiu com Paola e com suas filhas, eu fico muito feliz por você. E como dizia Guimarães Rosa...amizade dada é amor. E assim construimos belas relações baseadas na admiração, respeito e carinho. E posso te confessar que ser "ponte" para bons encontros, me dá muita alegria.
Poxa... estou emocionada aqui, querido Galdino. Muito obrigada por esse texto lindo. Você sabe que eu gosto muito de você e tenho uma grande admiração por seu percurso. Quando eu vejo você feliz com a vida que construiu com Paola e com suas filhas, eu fico muito feliz por você. E como dizia Guimarães Rosa...amizade dada é amor. E assim construimos belas relações baseadas na admiração, respeito e carinho. E posso te confessar que ser "ponte" para bons encontros, me dá muita alegria.
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